assisti a "do começo ao fim". e começo já dizendo que não sei se vi o fim: o arquivo baixado no computador, único que me foi possível achar no "câmbio negro" (o filme teve uma só sessão em joão pessoa, e eu a perdi) é interrompido na cena dos dois irmãos em desesperados abraços e beijos após saberem da partida de um deles à rússia, lá pelos 50 e tantos minutos de filme.
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muito se fala de ausência de conflito na estória. conversa! existe uma tensão implícita já de cara. nem que seja sentida através do cristianismo entranhado em mim. mas o narrador da estória, que é um dos irmãos, ao estender essa grande toalha, introduzindo o assunto complicadíssimo, ressoa a esses meus paradigmas culturais, de imediato. e a mãe! - julia lemmertz, maravilhosa -, que, é claro, é a primeira a ter a atenção chamada por aquela ligação carnal dos garotos, tão exacerbada, íntima demais - como lhe sugere depois o pai de um deles ainda pequenos? e na sequência final (pelo menos no meu arquivo), com a cena dos já marmanjos na cama, tentando, àquela atmosfera erótica ébria, dizer justificativas ao seu amor proibido? há um imenso conflito por trás da paixão rasgada do "eu te amo porque". nós nos extendemos, e somos nossos pais, família, amigos, sociedade, cultura e por vezes religião - que é cultura. é um exército a pressionar de alguma forma um casal homossexual e incestuoso. mas isso já tem a ver com o que eu disse antes: o conflito implícito imediato, mais presente em mim e em você do que naquela voz do narrador.
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o filme é conflituoso, sim, e me mostrou uma inteligente ilusão de leveza, de um ambiente protetor de classe média alta (como lembra o amigo juliano) composto por pessoas intelectualizadas o bastante para que haja a preocupação com conceitos de psicologia moderna em tentativas de evitar invasões e traumas. e, por isso, o medo pelo desenrolar afetivo entre aquelas crianças (um deles, púbere) não se verte em gritos e surras e separações forçadas - o que talvez fosse esperado pelo grande público como o tal conflito do filme. sequer há conversa dolorosa. mas um eco do proibitivo, este acompanha o gozo daqueles irmãos, todo o tempo.